QUARTO PASSO
“Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmas."
No Primeiro Passo, admitimos a falência de nossos relacionamentos. No
Segundo Passo, pedimos a um Poder Superior que nos ajudasse na recuperação. E,
no Terceiro Passo, entregamos o controle de nossas vidas a esse Poder. Agora,
no Quarto Passo, vamos investigar a nossa vida e reconhecer, através de um inventário
minucioso, quais foram os impulsos doentios que nos levaram a agir deforma
insana e destrutiva em nossos relacionamentos.
O propósito de um profundo e destemido inventário moral é arrumar a
confusão e a contradição de nossas vidas, para que possamos descobrir quem
realmente somos. Estamos começando uma nova maneira de viver e precisamos nos
livrar da carga e das armadilhas.
Ao olharmos para nossas vidas no passado, vimos que nossas relações
foram movidas por impulsos dependentes. Quando indagávamos: “Por que sempre eu acabo
me relacionando com esse tipo de pessoa?”, achávamos que éramos vítimas das
situações, que não tínhamos sorte, que a vida estava contra nós...
Em uma reação inconsciente, passamos grande parte do tempo fazendo
críticas, nos lamentando. Críticas ao outro, à família, ao trabalho, ao
governo, ao trânsito, e nos julgamos as maiores vítimas. Vivíamos criticando,
movidas por um desejo doentio de controle. Fomos mestres em autoengano e racionalizações.
Através de uma investigação
minuciosa, podemos superar esses obstáculos. Um inventário escrito vai
desvendar partes do nosso subconsciente, que permanecem escondidas, quando
apenas pensamos ou falamos sobre quem somos. Quando está tudo no papel, é muito
mais fácil ver a nossa verdadeira natureza e muito mais difícil negá-la. A
autoavaliação honesta é uma das chaves da nossa nova maneira de viver.
É importante reconhecer todos os padrões em nossa forma doentia de nos relacionar.
Isso é fundamental para que possamos nos abster desses comportamentos.
Começamos a ser honestas conosco, quando admitimos que a vida ficou
ingovernável. Levou muito tempo para admitirmos que estávamos derrotadas. Descobrimos
que não nos recuperamos física, mental e espiritualmente da noite para o dia. O
Quarto Passo vai nos ajudar na nossa recuperação.
A maioria de nós descobriu que não éramos tão terríveis, nem tão
maravilhosas, quanto imaginávamos. Ficamos até surpresas por descobrir que
temos coisas boas no nosso inventário. Qualquer pessoa, que esteja a algum
tempo no programa e tenha praticado este Passo, vai lhe dizer que o Quarto
Passo foi um momento decisivo na sua vida.
O propósito desse Passo é nos libertar de uma vida e padrões
destrutivos. Damos o Quarto Passo para crescer e ganhar força e discernimento.
O Primeiro, o Segundo e o Terceiro Passo são a preparação necessária para se
ter fé e coragem para escrever um inventário destemido. A nossa compreensão dos
Passos anteriores nos deixa à vontade. Nós nos damos o privilégio de nos sentirmos
bem com o que estamos fazendo. Estivemos nos debatendo por muito tempo sem
chegarmos a lugar nenhum.
Começamos agora o Quarto Passo e abrimos mão do medo. Simplesmente escrevemos
o melhor que podemos no momento. Precisamos pôr um ponto final no passado e não
nos agarrar a ele. Queremos ver nosso passado de frente, como ele realmente
foi, e libertá-lo para podermos viver o hoje. Para a maioria de nós, o passado
era um fantasma preso no armário. Temíamos abrir aquele armário, com medo do
que o fantasma pudesse fazer. Não temos que olhar o passado sozinhas, agora,
nossa vontade e nossa vida estão na mão do nosso Poder Superior.
No Quarto Passo começamos a entrar em contato conosco. Escrevemos sobre
as nossas deficiências, tais como culpa, vergonha, remorso, autopiedade, ressentimento,
raiva, depressão, frustração, confusão, solidão, ansiedade, deslealdade, desesperança,
fracasso, medo e negação. As qualidades também devem e precisam ser
consideradas, se quisermos ter um quadro mais correto e completo de nós mesmas.
Isto é muito difícil para a maioria de nós, pois é difícil aceitar que temos
boas qualidades.
No entanto, todas temos qualidades, muitas delas
recém-encontradas no programa, tais como: mente aberta, consciência de um Poder
Superior, honestidade com os outros, aceitação, ação positiva, hábito de
partilhar, boa vontade, coragem, fé, carinho, gratidão, gentileza e
generosidade.
Examinamos nossa atuação passada e nosso comportamento presente,
para ver o que queremos manter e o que queremos descartar. Ninguém está nos
forçando a desistir da nossa miséria. Este Passo tem a fama de ser difícil, na
realidade, ele é bastante simples. A maneira de escrever um inventário é
escrevê-lo. Pensar a respeito, falar sobre ele, teorizar, não faz dele um
inventário escrito. Nós nos sentamos com um bloco de papel, pedimos orientação,
pegamos a caneta e começamos a escrever.
Qualquer coisa que pensemos é material para o inventário. Você
terá que escrever bastante, empregando o tempo e a energia necessários para
executar esse trabalho. Pode ser que, para você, escrever não seja um meio de
expressão fácil, em que se sinta à vontade. Entretanto, é a melhor técnica para
esse exercício. Não se incomode em escrever corretamente, ou mesmo bem. Faça de
forma a ter sentido para você. Você precisará ser absolutamente honesta e
autorreveladora em tudo o que escrever. O inventário torna-se um alívio, pois a
dor de fazê-lo é menor do que a dor de não fazê-lo. Ao escrever vamos abrir a
tampa da “panela de pressão”. Decidimos se queremos servir o que tem dentro,
colocar a tampa de volta ou jogar fora o que está lá. Não precisamos nos
cozinhar dentro dela. Pedimos ajuda ao nosso Deus, rogando coragem para sermos
destemidas e profundas, e para que o inventário possa nos ajudar a colocar as
nossas vidas em ordem. Quando rezamos e
agimos, sempre conseguimos melhores resultados. Não vamos ser perfeitas. Se
fôssemos não seríamos humanas. O importante é que façamos o melhor.
Podemos abordar o Quarto Passo de várias maneiras, é só
escolher. O Quarto Passo pode ser feito periodicamente, nas várias fases do
nosso processo de recuperação, ou até mesmo, pode ser utilizado em um assunto
específico – um Quarto Passo do seu trabalho, de um relacionamento específico –
sempre mantendo o “holofote” virado para você.
É tentador fazer o Quarto Passo do outro. Isso é repetição de
padrão!
Você pode guardá-lo em lugar seguro e compará-lo quando fizer o
próximo. Uma pessoa que já tenha feito o Quarto Passo, ou sua madrinha pode
orientá-la. A nossa experiência demonstra que nenhum inventário, por mais
profundo e completo que seja, terá qualquer efeito duradouro, se não for
prontamente seguido de um Quinto Passo, igualmente completo.
“Reze para ter disposição, força e coragem para olhar
honestamente para o passado e sua participação nele. A psique é sensível a tais
esforços de “limpeza” e colabora trazendo de volta a dor enterrada no passado,
de maneira que ela possa ser conscientemente eximida.” (Robin – Meditações)
PERGUNTAS DO QUARTO PASSO:
1. Escreva sobre as características da sua família. Como se
relacionava com as pessoas, que tipo de relações você mantinha com elas? Seus
familiares eram carinhosos e compreensivos com você?
2. Perante os outros, que “segredos” ou aparências sua família
mantinha, para esconder das pessoas que seu lar não era tão saudável quanto
parecia ser?
3. Você se sentia amparada quando necessitava de ajuda? Como se
sentia nessas situações?
4. Descreva, de uma maneira geral, o que achava que a sua
família pensava de você durante sua infância, adolescência e fase adulta.
5. Como você chama a atenção das pessoas (introversão,
indiferença, bondade extrema, agressividade, etc.) para que saibam que precisa
de ajuda?
6. Tente identificar que sentimentos você tinha quando o comportamento
do seu parceiro fugia ao seu controle? Sentia raiva, ciúmes, inveja, medo, sentia-se
abandonada, rejeitada? Esses sentimentos têm relação com sentimentos
familiares, conhecidos na sua infância?
7. Que tipo de jogo mantinha ou mantém nos seus relacionamentos,
para fazer com que as pessoas atendam às suas necessidades? Você se fazia de vítima,
acusava os outros, abandonava temporariamente o relacionamento para que o
parceiro sentisse a sua falta? Comprava presentes para agradá-lo? Fazia muitos
elogios?
8. Quais são seus medos da vida agora? Quais são os barulhos que
ainda escuta e os fantasmas que ainda vê?
9. Como a sua doença afetou as diversas áreas da sua vida?
10. Por que você mantém ou mantinha o relacionamento, mesmo
sabendo que ele era destrutivo?
11. Que justificativas você usa ou usava para não sair desse
relacionamento?
12. Sente dificuldade em ficar só? Que sentimentos e
preconceitos você tem quando está sem um relacionamento?
13. Você acredita ter prejudicado outras pessoas em função de
manter essas relações doentias?
14. Quais as qualidades que você possui, mas tem dificuldade em
admitir?
15. O que mais gosta em si mesma?
16. O que você deseja alcançar hoje em sua recuperação?
PARA REFLETIR: ““As pessoas veem apenas aquilo que estão preparadas para ver”.
(Ralph Waldo Emerson)
Nenhum comentário:
Postar um comentário